Luiz Claudio Quadrado
Graduando em História pela Universidade Estácio de Sá
Nos dias atuais
muito se vincula sobre a fé islâmica e seus seguidores, atentados, homens
bomba, guerras e execuções são exibidas nas redes e são vistas por milhares de
pessoas, criando assim no senso comum uma forte ideia de que todo muçulmano é
terrorista, e que todo terrorista é muçulmano. Esse é um assunto complexo e que
precisa ser trabalhado com bom senso para se desconstruir estereótipos e
através da reflexão e informação podemos sim, melhor compreender os costumes e
os acontecimentos históricos que transformaram o islamismo na segunda maior
religião do mundo, ficando atrás somente do cristianismo, mais que ganha novos
adeptos em uma velocidade surpreendente gostaria de frisar que é uma rápida descrição dos relatos da história de Maomé e o inicio do Islã, logo deixei de fora alguns detalhes e acontecimentos para o qual retornarei posteriormente. Para isso os convido a entrar comigo
nesta aventura e conhecer o um pouca da História do Islã em seu inicio, Vamos?
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OS ÀRABES ANTES DO ISLÂ:
Os árabes pré-islâmicos viviam em sua maior parte na Península
Arábica, era estepe ou deserto, com Oasis isolados contendo água suficiente
para o cultivo regular, esses habitantes falavam vários dialetos do Árabe
seguiam diferentes estilos de vida, alguns eram nômades criadores de camelo,
carneiro ou cabras, e outros agricultores... O equilíbrio entre nômades e
sedentários era precário, quem dominava embora em minoria, eram os nômades dos
camelos, móveis e armados que juntamente com os mercadores das aldeias, dominavam
os lavradores e artesãos, esses árabes também são conhecidos como Beduínos[1].
A organização era clânica, e o chefe de cada família era responsável por manter
a união daqueles que se reuniam ao seu grupo, sendo parentes ou não eram chamados
de tribos, e essas tribos eram em sua maioria politeísta, adoravam deuses
locais, ou objetos vistos no céu. Porem com as rotas comerciais e a
proximidade, muitas das novas ideias já começava a povoar as mentes dos árabes,
em meio às guerras entre Bizantinos e Sassanidas (Persas). Os Árabes apostavam
no comercio como principal fonte de riqueza, e com o passar dos anos e a
convivência com cristãos e judeus fez crescer entre o povo uma espécie de
ciúmes, apesar dos Árabes pré-islâmicos serem em sua maioria politeísta, muitos
acreditavam que o deus maior em seu panteão, cujo nome é Alá ou Al-Lah (o Deus) era a mesma divindade
adorada por judeus e cristãos, mas acreditava que essa divindade não enviaria
aos árabes nenhum profeta muito menos um livro sagrado em língua arábica. E
para piorar os judeus e cristãos com quem se encontravam com frequência
escarneciam dos árabes por terem sidos deixados de lado no plano divino[2]
em todo território árabe as tribos se enfrentavam em guerras de vingança e
contra-vingança, para muitos aos olhos dos outros povos, os árabes eram um povo
perdido e que nunca fariam parte de um mundo "civilizado", ou seja,
um povo esquecido por Deus.
MAOMÈ E A REVELAÇÂO
Muhammad ibd Abdallah ou simplesmente Maomé, nasceu por volta
do ano de 570 na cidade de Meca, uma aldeia da Arábia ocidental, sua família pertencia
à tribo dos Coraixitas, mesmo sua família não pertencendo à parte mais poderosa
do local, os Coraixitas eram mercadores e mantinham acordos com outras tribos
pastoris ao redor de Meca, e mantinham relações com a Síria, e mantinham
ligações com o santuário da aldeia, A Caaba onde se guardavam as imagens dos
deuses locais, sendo assim Maomé era comerciante e ao casar-se com Cadija, uma
viúva comerciante passou também a cuidar dos negócios de sua esposa. Foi
durante o mês do Ramadã, em 610 D.C, Maomé então com 40 anos de idade, costumava
se retirar para uma caverna no monte no alto do monte Hira, bem nos arredores
de Meca, lá ele praticava o jejum e dava esmola aos pobres neste local ele
permaneceria por 30 dias, já algum tempo, ele vinha meditando a respeito do
enriquecimento de sua tribo, a Quraysh, junto ao comercio com os países
vizinhos, apesar de Meca ter se tornado uma rica cidade mercantil, a corrida
agressiva em busca de riqueza, fazia com que alguns antigos valores tribais
tenham se perdido e estes já não seguiam o código dos nômades, como cuidar dos
membros mais fracos da tribo, por exemplo, os Coraixitas estavam mais
preocupados em ganhar mais riquezas, mesmo à custa dos clãs mais pobres. Porem
na décima sétima noite do ramadã quando no interior da caverna daquela montanha
no monte Hira, Maomé foi acordado por uma voz que disse, "Recita!"
(Iqra!), e por três vezes o anjo "Gabriel" em forma humana insistiu e
com seu corpo tomado por um estado êxtase e tremores diante da presença divina
que logo o tomou nos braços e após esse momento o anjo lhe ordenou
"recita!" e na terceira vez Maomé perguntou: o que recitarei? Então a
voz respondeu: "Recita em nome do teu senhor que criou todas as coisas,
criou o homem a partir de coágulos de sangue. Recita, pois teu senhor é o mais
generoso, que ensinou com a pena, que ensinou ao homem o que ele não
sabia". Essas são as palavras que formam os quatro versículos (ayat) do
capitulo 96 (suras) do Corão, pela primeira vez Deus havia falado em solo
Árabe.
O INÍCIO DA PREGAÇÃO E AS CONVERSÕES
E por dois anos
Maomé aguardou e não revelou sua experiência, porém continuou recebendo novas
revelações, todavia só confiava na sua esposa Khadija e no primo dela, Waraqa
ibn Nawfal, um cristão, os dois acreditavam que estas revelações vinham de
Deus. Quando Maomé se sentiu confiante a pregar, logo começou a arregimentar
seguidores, entre eles seu primo Ali ibin Abi Talib, seu amigo Abu Bakr, e o
jovem mercador da poderosa família Omíada Uthman ibn Affan, um numero
expressivo de mulheres, vinham dos clãs mais pobres insatisfeitos c
Esse era o centro
do ensinamento da nova escritura sagrada, chamada de Corão (quran: recitação)
como a maioria era formada por analfabetos (incluindo o próprio Maomé) os
ensinamentos eram assimilados por ouvir as leituras públicas, o corão foi
revelado a Maomé verso por verso (surah) durante 21 anos e a beleza de se ouvir
recitar o corão acabou por criar uma nova forma literária e poética árabe,
muitos se converteram através da beleza de tal poesia, "quando ouvi o
Corão, meu coração se enterneceu e eu chorei, e o Islã entrou em mim"
disse Umar ibn al-Khattrab um opositor convertido.
O ISLÃ
Enfim surge uma nova seita, e seria chama de Islã (islam: submeter-se)
e muçulmano (muslin) seria todo homem ou mulher que submeteu sua vida a Alá e
ao pedido deste agisse com o próximo com justiça, equidade e compaixão. Nas
preces rituais se praticava a atitude de prostração (salat) três vezes ao dia,
mais tarde esse numero subiria para cinco. Esse ato feria a tradição da velha
ética tribal que via nesta atitude um ato repugnante, afinal, só escravos
deveriam se prostar ao chão, mas era justamente o ato de se prostrar que tinha
como fim na postura corporal reeducar o muçulmano fazendo com que este simples
ato combate-se a arrogância dura e a insolência que crescia em Meca. O Corão
exigia também que os muçulmanos dessem regularmente parte de sua renda aos pobres,
sobre forma de esmolas (zakat). Deveriam jejuar no Ramadã, portanto a justiça
social era um fator crucial para os muçulmanos que tinham na ummah (comunidade)
uma espécie de termômetro, se o a comunidade fosse bem isso significava que os
muçulmanos estavam agindo de acordo com a vontade de Alá, quando não...
HÉGIRA
Maomé adquiriu um
pequeno séquito, cerca de setenta famílias, no começo isso não incomodou os
poderosos de Meca, mais isso mudaria a partir de 616 quando se inicia uma
espécie de perseguição a Maomé e até se proíbe que se faça comércio com as
tribos convertidas ao Islã, à medida que o islã crescia e seus ensinamentos se
difundiam ficava mais claras as diferenças com as crenças aceitas, atacava-se
os ídolos e as cerimônias relacionadas aos cultos pagãos. Ele explicitamente se
alinhava a linha dos profetas de tradição judaico-cristã. mas o que mais
incomodava os poderosos de Meca,era o fato do Corão pregar que a riqueza não
daria salvo-conduto aos nobres pois, estes não cuidaram dos pobres, e isso ia
contra a fome crescente por riqueza que assolava Meca
Deste modo, por fim
ficou insustentável a permanência do profeta e seus seguidores em Meca, e em
622 ele deixa Meca e parte para um pequeno Oasis a cerca de trezentos
quilômetros ao norte Yatrib que seria no futuro conhecido como Medina. Essa
mudança de Meca para Medina serviria para as gerações posteriores como data do
inicio da era muçulmana e é conhecida como Hégira, não com uma conotação
negativa de fuga, mas como uma viagem em busca de proteção, e nos séculos
seguintes seria usada para significar o abandono de uma sociedade pagã ou má
para outra que seguia a doutrina moral do Islã.
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Cidade de Medina |
MEDINA, JUDEUS E O RETORNO A MECA.
Foi em Medina que
se desenvolveu um fortalecimento das forças muçulmanas, que na decorrência da
busca por alimentos e provisões, viu nos saques as caravanas que negociavam com
Meca um modo de simples de redistribuir recursos numa terra que simplesmente
não tinha o suficiente para todos. Em 624 Maomé conduziu um grande bando de
migrantes para interceptar a maior caravana vinda de Meca, porem os Coraixitas
haviam preparado um grande exercito para escoltar a caravana e após uma batalha
sangrenta mesmo em numero muito menor a força muçulmana venceu, com o mérito
devido a Maomé que não só liderou a batalha, mas também havia treinado seu
grupo, essa vitória foi de suma importância para o orgulho da nova comunidade, porem
em 625 Meca desfere uma ofensiva vitoria sobre Medina na batalha de Uhud.
Enquanto isso as tribos de judias que já habitavam em Medina, em especial as
mais fortes e importantes, não viam com bons olhos a chegada de Maomé e não
viam nele um profeta, e apontavam às diferenças daquele que se julgava um
profeta do mesmo Deus judaico, era costume também os judeus se pegarem aos
risos e galhofas quando Maomé recitava as estórias de Moisés ou Abraão, essas
três tribos formaram um bloco poderoso que mais tarde iria se juntar aos
Coraixitas de Meca contra os muçulmanos. Mas em 627, Maomé daria o troco na
batalha do Fosso, o líder utilizou de uma tática inteligente e venceu o
exercito de Meca que era maior numericamente em uma proporção de quatro mecanos
para um muçulmano e ainda contava com as tribos judaicas que eram contrárias a
Maomé. Somando essa vitória ao seu cartel Maomé passou a ser cada vez mais
respeitado e a quantidade de tribos que se juntavam ao seu lado o fez criar uma
confederação tribal que jurou não se atacar mutuamente e a lutar contra os
inimigos uns dos outros.
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Cidade de Meca. |
Em março de 628 ele
teve uma ousada e criativa iniciativa que daria fim ao conflito . Ele anunciou que faria uma peregrinação a Meca e pediu
voluntários para acompanha-lo, ele reuniu cerca de mil muçulmanos que usando o
a tradicional túnica branca dirigiram-se a Meca, mais uma vez a astucia de
Maomé iria vencer a força de Meca, pois se os Coraixitas atacassem árabes
desarmados que seguiam para se aproximar da Caaba, eles trairiam o dever
sagrado de guardiões do santuário, e após uma emboscada armada no caminho dos
peregrinos antes de chegar à cidade, com a ajuda dos Beduínos Maomé conseguiu
driblar os coraixitas e de forma pacífica acampar nos limites do santuário, o
que levaria os Coraixitas a aceitarem um tratado com a comunidade muçulmana.
Esse fato acabou por deixar os Beduínos impressionados com o profeta e muitos
se converteram. Porem os Coraixitas quebraram o tratado de paz atacando
tribos protegidas pela ummah, Maomé marchou sobre Meca com um exercito de dês
mil homens, os Coraixitas diante de tal poder não viram alternativa e abriram
os portões da cidade e Maomé entrou sem derramar uma gota de sangue, ele destruiu
os ídolos à volta da Caaba, e consagrou-a a Alá, Deus único, dando assim um
significado islâmico aos ritos pagão do haji ligando-os à história de Abraão,
Agar e Ismael, levando ao fim um ciclo de guerra tribal de vendeta e
contra-vendeta entre as tribos que agora participavam deu ma única comunidade,
Maomé, tinha conseguido levar a paz a Arábia destruída por guerras seculares.
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Peregrinação a Meca. |
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Conquistas de Maomé. |
REFERÊNCIAS:
ARMSTRONG, Karen. In________ Maomé, Uma Biografia do Profeta.
Companhia das Letras, 2002
ARMSTRONG, Karen. In________ O, Islã. Editora Objetiva, 2002
ALCORÂO, Sagrado, O ________ Editora Samir, 2010.
HOURANI, Albert. In__________ Uma História dos povos Árabes,
Companhia das Letras, 1991.
LEWIS, Bernard. In___________ O Oriente Médio: Do advento do
Cristianismo aos Dias de Hoje, Editor Jorge Zahar, 1996
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